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Vigilância

É mera impressão.

Ainda que correndo o risco de um otimismo descabido ou desproporcional, ou mesmo inoportuno, me parece que o bom senso está retornando ao nosso cotidiano.

Percebo certo grau de arrefecimento nos ânimos antes mais que exaltados, exacerbados.

Vejo por aí tons de entendimento de que as eleições presidenciais acabaram, que a democracia foi materializada e, mais, precisa ser respeitada. Um projeto, ou postura, ou proposta, o que seja, para os próximos anos do Brasil foi escolhido à luz da regra eleitoral, e o resultado dali tirado há de triunfar pelo período mandamental.

No mesmo passo, detecto que o encantamento hipnótico (por mim nunca compreendido, mas...) em relação a um homem e o poder que efetivamente lhe foi constitucionalmente outorgado não operará milagres como os desejados. Há, repito, me parece, realismos agora retomados e alguma ciência a respeito de que uma só pessoa não consegue mudar uma nação.

Eu já vi, e ouvi, juro, pessoas de ambas as correntes, que aqui vou simploriamente qualificar como pró e contra governo, reconhecerem equívocos de julgamento próprios seus, como erros ou precipitações de manifestações acerca deste ou daquele tema. Já vi até gente confessar arrependimento pelo voto dado. Dos dois lados, corroboro.

Pode parecer estranho, mas não percebo nada de negativo nisso. Pelo contrário, até me tranquiliza um pouco ver que ainda há gente que não se compromete com o que considera erro. E dali para a frente revê suas posições, aprende com o equívoco, mas que frustração, é magistério se bem aproveitado.

Essa gente precisa ser protegida, ser defendida, e sua expressão necessita ser garantida, tanto quanto a daqueles que pasmos primeiro, indignados depois, veem na mudança de opinião ato de traição. Coisas da intransigência que, como disse, acho que está diminuindo, não extinta.

Se comemoro? Claro que sim. A impressão me agrada, não há dúvida, e não tenho pudores em externar satisfação diante do que considero ato racional, exercício inteligente, gesto de humildade e postura de grandeza.

Ainda assim, me acautelo e não deixo de "trocar orelha" diante da memória de que o absolutismo de ideias e o obscurantismo em diálogos ainda é, digamos, considerável, para manter hígidas as amenidades.

E mais: sei que novas eleições estão bem pertinho. E é daquelas, locais, quando a proximidade dos temas, das pessoas diretamente envolvidas além de maior é mais suscetível de paixões.

Retorno, por retorno, tanto a razão, quanto a irracionalidade tem, todos os dias, e terão ainda mais, oportunidades para fazê-lo.

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